Imigração e Política: Como os novos eleitores (imigrantes e filhos de imigrantes) estão a favorecer os partidos de Esquerda

Imigração e Política: Como os novos eleitores estão a redesenhar o futuro das democracias.

A relação entre imigração e comportamento eleitoral é hoje um dos temas tabu em Portugal, mas a verdade é que este deveria ser um dos temas mais debatidos nas democracias modernas. À medida que as sociedades ocidentais aderem à globalização e se tornam mais diversificadas, as urnas de voto vão começando a sentir essa transformação, e o exemplo claro dessa transformação é os EUA, ora no panorama nacional, para as eleições presidenciais, ora na eleição de Nova Iorque que elegeu Zohran Mamdani.

A vitória de Zohran Mamdani - Cronista Portugal Inigualável

Mas perguntemo-nos… será que esta mudança populacional é neutra ou está a inclinar o pêndulo político para um dos lados?

A verdade, e os dados não mentem! Existe uma tendência clara – quanto maior a imigração não europeia, mais forte tende a ser a votação nos espetros políticos de esquerda.

Embora se faça uma análise neste artigo às eleições presidenciais dos EUA e ao caso mais recente das eleições em Nova Iorque, a realidade é que este fenómeno dos imigrantes votaram mais à esquerda, não é exclusivo dos Estados Unidos na América.

As eleições em Nova Iorque e a vitória de Zohran Mamdani

O candidato Zohran Mamdani, filho de imigrantes ugandeses, obteve uma vitória expressiva nas eleições de Nova Iorque, tendo vencido com mais de 50% dos votos, como verificado na imagem abaixo.

As eleições em Nova Iorque desenrolaram-se em 5 círculos eleitorais - Bronx, Brooklyn, Manhattan, Queens e Staten Island e é através de uma análise a cada círculo, que se percebe com clareza a razão pelo qual Zohran Mamdani saiu vencedor.

Em Staten Island, o único círculo eleitoral que Zohran Mamdani perdeu,  é justamente o círculo eleitoral com maior percentagem de população branca, muitos deles descendentes de imigrantes europeus que chegaram no século XIX. Este facto por si já sugere uma tendência: os brancos tendem a votar mais à direita que os restantes.

Fonte: https://www.aljazeera.com/news/2025/10/31/the-new-york-city-mayoral-race-in-five-maps-and-charts

Se houvesse uma relação direta de causalidade, poder-se-ia  afirmar que o círculo eleitoral com menos brancos, seria automaticamente o círculo eleitoral mais favorável a Zohran Mamdani, e a verdade é que isto não aconteceu.

Em Bronx, onde apenas 8,9% da população é branca e 54,8% da população é hispânica (verificável na imagem abaixo), embora Zohran tenha vencido, não foi o círculo em que venceu com maior margem, logo esta hipótese simplista de causalidade é desmentida.

Fonte: https://www.aljazeera.com/news/2025/10/31/the-new-york-city-mayoral-race-in-five-maps-and-charts

Então, o que nos dizem estes números?

Que, nos EUA, o voto à direita surge em maioria entre os brancos, seguido dos hispânicos, hispânicos estes, que por mais que sejam diferentes dos europeus, têm uma forte ligação histórica à Europa, sendo descendentes de colonos espanhóis, portugueses ou italianos, e embora pareça irrelevante à priori, a verdade é que o fator histórico aparenta mesmo estar relacionado.

Relativamente aos brancos, ainda há um dado essencial a considerar: ser-se branco não significa automaticamente ser-se “nativo”. Pode-se ser branco e pertencer à 1ª ou 2ª geração de imigrantes. Sem dados mais específicos por geração é difícil concluir o real impacto da imigração recente no voto. No entanto, mesmo sem estas subdivisões, os números já mostram um padrão: a esquerda está a colher votos onde a demografia mais se afasta da matriz cultural e história europeia mais consolidada.

E é a partir desta análise micro, que importa realizar uma análise macro para perceber se a hipótese que colocamos bate certo.

As últimas eleições presidenciais (Trump vs Kamala) – Os dados não mentem: Como Raça e Origem influenciam o Voto

Os resultados das últimas eleições presidenciais nos EUA entre Donald Trump e Kamala Harris, confirmam a tendência já observada nas eleições locais de Nova Iorque. Quando categorizamos os eleitores por raça e origem étnica, a conclusão é mesmo inequívoca: a divisão política nos EUA segue um eixo profundamente racial e identitário.

Comecemos pelos números:

Fonte: https://www.washingtonpost.com/elections/interactive/2024/exit-polls-2024-election/

  • 55% dos brancos votaram em Trump, e este grupo representou 71% de todos os eleitores. Ou seja, a base de apoio da direita dos EUA continua fortemente enraizada na população branca.
  • Entre os hispânicos, 46% votaram à direita, um número surpreendentemente alto quando comparado com o que se poderia esperar de um eleitorado muitas vezes associado à esquerda.
  • Já entre os eleitores negros, a situação inverte-se radicalmente: 86% votaram na esquerda.
  • Os asiáticos tendem maioritariamente para a esquerda, mas com uma polarização muito menos acentuada do que entre os negros – apenas 40% votaram na direita.

Quando agrupamos os dados em duas grandes categorias – “brancos” vs “não-brancos”, a diferença torna-se ainda mais clara:

Apenas 33% dos não brancos votaram em Trump. Ou dito de forma simples, a cada 3 não brancos, 2 votam à esquerda.

Isto significa, que nos Estados Unidos, o comportamento eleitoral está profundamente condicionado pela identidade racial e pela origem.

A importância das gerações: Imigrantes de 1ª, 2ª e 3ª gerações (A realidade demonstrada nas eleições de Nova Iorque)

Embora nas análises eleitorais se divida os votantes em “Brancos” e “Não Brancos”,  essa categorização simplesmente falha ao ignorar um ponto crucial: nem todos os brancos fazem parte da identidade cultural norte-americana histórica. Muitos dos que hoje são incluídos na categoria “brancos” podem ser na verdade imigrantes de 1ª ou 2ª geração e isso distorce um pouco a leitura do comportamento eleitoral.

A chave para entender esta dinâmica está em distinguir as gerações de imigrantes.

  • A 1ª geração são os próprios imigrantes. Estes carregam consigo os valores, hábitos e mentalidade do país de origem.
  • A 2ª geração são os nascidos no país de acolhimento, mas educados entre 2 culturas – a da família e a do novo país. Esta dualidade muitas vezes gera uma visão híbrida, que pode incluir uma maior sensibilidade às agendas ora progressistas ora às causas identitárias.
  • Na 3ª geração aqui já acontece a verdadeira aculturação. Estes indivíduos já não têm contacto direto com as tradições dos avós ou com a cultura de origem. É nesta geração que o sentimento de pertença nacional, de identidade cultural partilhada e até de patriotismo se enraíza.

Por esta razão, em países mais restritivos no que diz respeito à concessão de nacionalidade, como o Qatar ou a China, são exigidas décadas ou até mesmo gerações de ingegração antes de alguém poder ser considerado realmente parte da identidade nacional. Não se trata apenas de residir num país, mas de ser moldado por ele, ao longo do tempo, respeitando os costumes do país que nos acolhe.

Ora, quando olhamos para as estatísticas eleitorais sem distinguir estas gerações, corremos o risco de mascarar a realidade: a esquerda americana beneficia-se hoje de um contingente significativo de eleitores que ainda não se identificam totalmente com os valores tradicionais americanos, porque estão nas suas primeiras fazes de integração ou são culturalmente mais próximos das suas raízes eternas.

Nas eleições de Nova Iorque percebe-se exatamente que o sentimento de pertença no país é fulcral na decisão do voto. Quanto mais tempo se permanece num país e se está nele, mais à direita se vota - Quanto menos tempo se permanece num país, mais à esquerda se vota.

Fonte: https://www.nbcnews.com/politics/2025-elections/new-york-city-mayor-results

Ou seja, quanto mais próximo de ser nativo mais à direita se vota. E a esquerda sabe literalmente disto e é por isso que se preocupa tanto com a questão de favorecer a lei da nacionalidade. 

O pior pesadelo da esquerda, seria um modelo similar à China, porque após 3 gerações de integração, o neto de imigrantes teria um maior sentido patriótico e tendencialmente votaria mais à direita. 

Este gráfico literalmente ilustra a importância que os imigrantes têm para eleger os líderes progressistas.

E será que tem alguma relação com Portugal? 

Portugal Neste Cenário Global

Em Portugal, a esquerda política pode estar fragilizada hoje, mas será uma questão de tempo até que os imigrantes e filhos de imigrantes tenham direito de voto em massa. Sem uma reflexão séria sobre a lei da nacionalidade em Portugal e sobre o que significa ser português, corremos o risco de repetir a polarização que hoje se vive nos EUA.

Isto não significa ignorar ou rejeitar imigrantes, pelo contrário. Isto significa que reconhecer que a cidade e a identidade nacional são património dos nativos e que estender o direito de decidir o futuro político de um país deve ser algo feito com o máximo sentido de responsabilidade e não por aqueles que por residirem meros anos num país têm direito de decidir o futuro de uma nação com centenas de anos.

Em última análise, importa mesmo salientar que este debate não é um debate racista ou xenófobo – trata-se de uma questão de soberania, identidade e futuro democrático. E se não o fizermos hoje, talvez seja tarde demais para o corrigir.

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No vídeo abaixo, analiso toda esta questão, incluindo o impacto da variável género.



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